Os tenébrios, cientificamente conhecidos como Tenebrio molitor, são larvas do besouro-do-farinha, muito utilizados como fonte de alimento para diversos animais domésticos, especialmente répteis, aves ornamentais, peixes e até pequenos mamíferos. Ricos em proteínas e fáceis de criar, eles se tornaram uma alternativa prática e econômica para quem busca oferecer uma dieta mais natural e nutritiva aos seus pets.
Criar tenébrios em casa tem se tornado uma prática cada vez mais comum entre tutores de animais exóticos. Além de reduzir custos com a compra frequente desses insetos, a criação doméstica permite maior controle sobre a qualidade da alimentação oferecida aos tenébrios — o que influencia diretamente na saúde dos animais que os consomem.
Neste artigo, você vai aprender tudo o que precisa saber para manter uma criação de tenébrios eficiente em casa. Vamos abordar os cuidados essenciais, a alimentação adequada das larvas, e como estimular uma reprodução saudável e produtiva. Se você está começando agora ou quer aprimorar sua criação, este guia foi feito para você.
O que são Tenébrios?
Os tenébrios são insetos da espécie Tenebrio molitor, conhecidos popularmente por sua fase larval — a mais utilizada como alimento para animais. No entanto, seu ciclo de vida completo passa por quatro estágios distintos: ovo, larva, pupa e besouro.
Tudo começa com os ovos, que são quase invisíveis a olho nu e eclodem após cerca de 4 a 12 dias. Desses ovos nascem as larvas, que se desenvolvem ao longo de várias semanas, dependendo da temperatura e da alimentação. Após atingir o tamanho ideal, as larvas entram na fase de pupa, onde passam por uma metamorfose até emergirem como besouros adultos. Esses besouros, por sua vez, são os responsáveis pela reprodução, reiniciando o ciclo.
Do ponto de vista nutricional, os tenébrios são uma excelente fonte de proteína e gordura, fundamentais para o crescimento saudável de répteis como geckos, dragões-barbudos, camaleões, entre outros. Além disso, eles contêm aminoácidos essenciais e micronutrientes importantes, como cálcio (embora em menor quantidade, sendo recomendada a suplementação), ferro e potássio.
É comum que os tenébrios sejam confundidos com as zophobas (Zophobas morio), também conhecidas como superworms. Apesar da semelhança, há diferenças importantes: as zophobas são maiores, mais gordurosas e têm um ciclo de vida mais lento. Além disso, as zophobas não entram em fase de pupa se forem mantidas em grupo, o que facilita o manejo quando a intenção é apenas alimentar os animais. Já os tenébrios têm reprodução mais rápida e são ideais para quem deseja manter uma criação constante e eficiente em casa.
Compreender o ciclo de vida e as características nutricionais dos tenébrios é o primeiro passo para garantir uma criação bem-sucedida e, principalmente, uma alimentação mais rica e balanceada para seus répteis.
Montando o criadouro em casa
Montar um criadouro de tenébrios em casa é mais simples do que parece e exige pouco espaço e investimento inicial. Com os cuidados certos, é possível manter uma produção contínua e saudável, garantindo uma fonte constante de alimento para seus répteis. Veja como começar:
Recipientes ideais
O primeiro passo é escolher os recipientes para abrigar as diferentes fases dos tenébrios. Caixas plásticas com tampa (preferencialmente translúcidas) são as mais utilizadas por serem leves, baratas e fáceis de manusear. Também é possível usar caixas de vidro, embora sejam menos práticas.
O mais importante é garantir ventilação adequada. Perfure a tampa dos recipientes ou substitua-a por uma tela fina, como tule, para permitir a circulação de ar e evitar a proliferação de fungos. Evite recipientes metálicos, que podem reagir com a umidade e prejudicar a criação.
Substrato
O substrato tem dupla função: é o ambiente em que os tenébrios vivem e também a principal fonte de alimento. As opções mais comuns e eficientes são:
Farelo de trigo
Aveia em flocos finos
Farinha de milho (em menor proporção)
É importante manter uma camada de 3 a 5 cm de substrato e substituir ou peneirar regularmente para evitar o acúmulo de fezes e restos de alimento. Você pode também misturar diferentes substratos para oferecer variedade nutricional.
Temperatura e umidade ideais
Os tenébrios se desenvolvem melhor em ambientes com temperatura entre 24°C e 28°C. Temperaturas muito baixas retardam o crescimento e a reprodução, enquanto o calor excessivo pode causar mortalidade.
A umidade deve ser baixa a moderada, em torno de 50% a 60%, para evitar o aparecimento de fungos e ácaros. Em regiões mais úmidas, é recomendável o uso de sílica ou carvão ativado em cantos do criadouro para absorver o excesso de umidade.
Iluminação e local de instalação
Tenébrios não precisam de luz direta — na verdade, preferem ambientes mais escuros. Instale o criadouro em um local abrigado do sol, longe de correntes de ar e com pouca movimentação. Uma prateleira em despensas, lavanderias ou até mesmo em armários pode ser suficiente, desde que haja boa ventilação e temperatura estável.
Cuidados diários
Uma criação de tenébrios bem-sucedida depende de pequenos cuidados diários que, somados, garantem a saúde dos insetos e a eficiência da reprodução. Investir alguns minutos por dia no manejo do criadouro evita problemas maiores no futuro, como infestação por fungos, odores desagradáveis ou mortalidade precoce.
Frequência de limpeza
Embora os tenébrios sejam relativamente limpos, o substrato acumula restos de alimentos, fezes (conhecidas como “frass”) e cascas deixadas pelas larvas durante a muda. O ideal é fazer uma limpeza leve a cada 2 ou 3 dias, retirando pedaços de frutas e legumes que ainda não foram consumidos para evitar mofo.
A limpeza completa do substrato pode ser feita a cada 2 ou 3 semanas, dependendo da densidade da criação. Utilize uma peneira fina para separar as larvas do resíduo, descartando o material velho e repondo com substrato novo.
Controle de odores
Um criadouro bem manejado não deve ter mau cheiro. Odor forte geralmente é sinal de excesso de umidade, alimento em decomposição ou acúmulo de fezes. Evite oferecer alimentos úmidos em grande quantidade de uma só vez e mantenha o ambiente arejado. Frutas como maçã e cenoura, por exemplo, podem ser oferecidas em pequenas porções e sempre retiradas em 24 horas, caso não tenham sido consumidas.
Manejo de fungos e umidade excessiva
Ambientes úmidos favorecem o surgimento de fungos e ácaros, dois dos principais inimigos da criação. Para prevenir
Mantenha a ventilação adequada nos recipientes.
Evite empilhar caixas em locais abafados.
Use sílica gel ou pedaços de carvão vegetal nos cantos do criadouro para absorver a umidade.
Caso observe sinais de mofo (manchas esbranquiçadas ou cheiro de bolor), remova imediatamente o substrato contaminado e limpe o recipiente com água e vinagre antes de reutilizá-lo.
Separação das fases (larvas, pupas e besouros)
Um dos segredos para manter uma produção eficiente é separar os tenébrios por fase de desenvolvimento:
Larvas: devem ficar em caixas próprias, onde crescerão até atingirem o tamanho ideal para alimentação ou pupação.
Pupas: devem ser transferidas para outro recipiente, longe das larvas e besouros, pois são vulneráveis e podem ser canibalizadas.
Besouros: devem ser mantidos em caixas com substrato e alimentação, onde ocorrerá a postura dos ovos.
Separar as fases permite acompanhar melhor o ciclo, evitar perdas e manter um ritmo contínuo de produção.
Com esses cuidados simples, sua criação de tenébrios será mais limpa, saudável e produtiva, garantindo uma fonte confiável de alimento vivo por muito mais tempo.
Alimentação dos Tenébrios
A alimentação dos tenébrios é um dos pilares para manter uma criação saudável e, mais importante ainda, para garantir que eles sejam uma fonte nutritiva de alimento para seus répteis. Um tenébrio bem alimentado reflete diretamente na saúde do animal que o consome, por isso é essencial oferecer variedade e qualidade.
Alimentos ideais
Além do substrato seco (farelo, aveia, farinha de milho), os tenébrios precisam de fontes de umidade e nutrientes frescos. Os alimentos mais recomendados são:
Frutas: maçã, banana, pera, mamão
Legumes: cenoura, batata-doce, abobrinha, pepino
Verduras: folhas de couve, alface americana, espinafre (com moderação)
Esses alimentos devem ser oferecidos em pequenas quantidades, picados ou em rodelas finas, e sempre retirados após 24 horas se não forem consumidos — isso evita a proliferação de fungos e o aumento da umidade no criadouro.
O que evitar
Alguns alimentos devem ser evitados por serem prejudiciais ou por causarem problemas no ambiente:
Evite também deixar qualquer alimento por tempo prolongado no criadouro. A regra é: ofereça em pequenas porções e remova o excesso no dia seguinte.
Suplementação (Gut-loading)
Uma das melhores práticas para quem utiliza tenébrios como alimento é o gut-loading, ou seja, enriquecer a alimentação dos tenébrios pouco antes de oferecê-los aos répteis. Isso aumenta o valor nutricional do inseto, tornando-o mais completo para o animal que o consumirá.
Alimentos cítricos (laranja, limão): podem alterar o pH do substrato e causar estresse nos insetos.
Alimentos muito úmidos ou moles, como melancia ou tomate: favorecem o crescimento de fungos e o apodrecimento rápido.
Restos de comida humana: temperos, sal e gorduras são extremamente prejudiciais.
Você pode usar:
Rações específicas para gut-loading (disponíveis em pet shops especializados)
Vegetais ricos em cálcio, como couve e folhas de mostarda
Suplementos em pó (como cálcio e multivitamínicos), misturados aos alimentos frescos
O ideal é alimentar os tenébrios com esses itens 24 a 48 horas antes de oferecê-los ao réptil. Assim, eles estarão bem nutridos e seus pets, também.
Reprodução eficiente
Manter uma criação de tenébrios produtiva e estável exige mais do que apenas cuidados básicos — é preciso entender o ciclo de vida completo e adotar estratégias que estimulem a reprodução dos besouros, evitem perdas e acelerem a renovação das gerações. A seguir, você confere como garantir uma reprodução eficiente dentro de casa.
Como estimular a reprodução dos besouros
A fase adulta dos tenébrios — o besouro preto — é responsável pela postura dos ovos. Para garantir uma boa taxa de reprodução, é essencial:
Manter os besouros em um ambiente estável, com temperatura entre 25°C e 28°C.
Fornecer um substrato leve e poroso, como farelo de trigo ou aveia, que servirá tanto para a postura quanto como alimento.
Evitar superlotação, pois o estresse reduz a fertilidade e pode levar ao canibalismo de ovos e pupas.
Oferecer alimentos frescos regularmente (como cenoura e batata) para estimular a atividade reprodutiva.
Os besouros começam a acasalar poucos dias após emergirem da pupa e continuam colocando ovos durante várias semanas. Uma única fêmea pode depositar centenas de ovos ao longo da vida.
Tempo médio para o ciclo completo
O ciclo de vida do tenébrio pode variar de acordo com as condições ambientais, mas, em média:
Em condições ideais de temperatura e alimentação, é possível completar o ciclo inteiro em aproximadamente 2 a 3 meses.
Dicas para acelerar a produção e evitar perdas
Controle a temperatura: ambientes mais quentes (dentro do limite seguro) aceleram o metabolismo dos tenébrios, reduzindo o tempo de desenvolvimento.
Separe os besouros a cada 2 ou 3 semanas: isso impede que eles comam os próprios ovos e facilita o nascimento das novas larvas.
Remova pupas assim que surgirem: elas são vulneráveis ao ataque de besouros e larvas, então é importante transferi-las para um recipiente separado até a fase adulta.
Rotacione os criadouros: mantenha caixas com diferentes fases (larvas jovens, larvas maduras, pupas, besouros) para ter produção contínua.
Ovo: 4 a 12 dias
Larva: 6 a 10 semanas
Pupa: 1 a 2 semanas
Besouro adulto: vive de 1 a 3 meses
Separação das fases para otimizar a reprodução
Separar as fases do ciclo não é apenas uma recomendação — é uma estratégia fundamental para evitar perdas e maximizar a eficiência da criação:
Larvas: mantidas sozinhas para engorda ou pupação.
Pupas: transferidas para caixas isoladas até virarem besouros.
Besouros: agrupados em ambientes apropriados para reprodução, com troca periódica de substrato para garantir o aproveitamento máximo dos ovos.
Essa organização permite controlar melhor o ritmo da criação e planejar a colheita das larvas conforme a demanda dos seus répteis ou outros animais.
Com planejamento, controle ambiental e separação por fases, você transforma sua criação em um sistema cíclico e produtivo, garantindo tenébrios saudáveis e abundantes por tempo indeterminado.
Problemas comuns e como resolver
Mesmo sendo relativamente fáceis de criar, os tenébrios podem apresentar alguns desafios que comprometem a eficiência e a saúde do criadouro. Identificar rapidamente os sinais de problemas e saber como agir faz toda a diferença para manter a produção estável. A seguir, listamos os principais contratempos enfrentados por criadores e como resolvê-los.
Infestações por ácaros ou outros insetos
Ácaros são um dos inimigos mais comuns em criadouros de tenébrios. Eles surgem, geralmente, por excesso de umidade ou restos de alimentos em decomposição, e podem comprometer toda a criação ao infestar ovos, larvas e pupas.
Como prevenir e combater:
Mantenha a umidade controlada (entre 50% e 60%) e a ventilação adequada.
Evite excessos de alimentos úmidos e sempre retire restos não consumidos em até 24 horas.
Use sílica gel, carvão ativado ou farinha de diatomácea (segura para insetos) nos cantos dos recipientes para reduzir a umidade e manter o ambiente seco.
Em casos graves, o melhor é descartar o substrato contaminado, higienizar o recipiente com vinagre ou álcool, e iniciar uma nova criação com larvas saudáveis.
Outros insetos, como formigas ou moscas, podem ser atraídos pelo alimento. Mantenha o criadouro em local limpo, fechado e protegido contra invasores externos.
Mortalidade alta de larvas
Se suas larvas estão morrendo em grande quantidade, algo no ambiente ou na alimentação está desequilibrado.
Causas comuns:
Temperatura muito baixa ou muito alta.
Substrato velho, mofado ou contaminado.
Falta de alimento fresco ou excesso de alimento úmido, causando fermentação.
Superpopulação no recipiente, gerando estresse e competição.
Soluções:
Ajuste a temperatura para a faixa ideal (24°C a 28°C).
Renove o substrato regularmente e faça peneiragens semanais.
Evite superlotação: distribua as larvas em mais de um recipiente, se necessário.
Ofereça uma alimentação variada, equilibrando alimentos secos e úmidos.
Baixa taxa de reprodução
Se os besouros estão vivos, mas a criação não está gerando novas larvas, o problema pode estar na postura dos ovos ou na sobrevivência das larvas recém-nascidas.
Possíveis causas:
Os besouros estão comendo os próprios ovos.
Temperatura abaixo do ideal, retardando ou impedindo a eclosão.
Ovos ou larvas jovens sendo devorados por larvas maiores.
Como resolver:
Separe os besouros a cada 2 ou 3 semanas e transfira o substrato para outro recipiente, onde os ovos possam se desenvolver sem risco.
Mantenha temperatura estável e ambiente tranquilo para estimular a reprodução.
Evite misturar larvas de diferentes idades no mesmo recipiente.
Considerações finais
Criar tenébrios em casa pode parecer simples, mas como vimos ao longo deste artigo, o sucesso está nos detalhes do manejo diário. Desde a escolha do recipiente e substrato até o controle de temperatura, umidade e separação das fases, cada etapa contribui diretamente para uma criação saudável, eficiente e de longa duração.
Ao oferecer uma alimentação adequada, manter a limpeza do criadouro e estimular a reprodução dos besouros com boas práticas, você garante uma fonte contínua e nutritiva de alimento vivo para seus répteis — e ainda reduz custos com compras externas.
Além disso, a criação doméstica de tenébrios é uma excelente forma de promover a sustentabilidade no cuidado com os animais, permitindo um controle maior sobre o que eles consomem. É também uma atividade educativa, prática e acessível, que pode ser realizada até em pequenos espaços.
Para quem se interessa em dar um passo além, a produção pode ser expandida e até se tornar uma fonte de renda extra, com a venda ou troca de larvas, pupas ou besouros com outros criadores. Com organização e planejamento, é possível transformar um criadouro doméstico em um pequeno negócio.
Seja para alimentar seus pets ou como um novo projeto, criar tenébrios é uma atividade recompensadora, ecológica e, acima de tudo, totalmente viável dentro de casa. Comece com um pequeno criadouro, coloque as dicas em prática e observe os resultados — seus répteis (e o seu bolso) certamente vão agradecer.
